sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sobre a delicadeza de pessoas desconhecidas...

Apenas um gesto e você consegue ver o outro lado de alguém que você não sabe o primeiro nem o segundo nome
Apenas um gesto no meio da rua, e você se encanta, se emociona e até se apaixona.
Apenas um gesto simples, e você já pensa como será o casamento, a lua de mel e as bodas ouro.
Apenas um gesto...
Aí ele entra no ônibus e vai embora, e você fica parada no ponto com o buquê nas mãos e uma sensação de que deveria ter entrado no mesmo ônibus...

...

Ela não é triste. Apenas está triste. Parada no trânsito olhando para o mar. Pensando nas mil possibilidades de fugir para o Hawaii. Ela fica triste por uma longa noite inteira e depois dorme.
E quando acorda, é como se estivesse numa cama elástica que nunca desce, apenas sobe. Ela ri da própria desgraça e se pergunta porque não consegue ficar nesse estado de tristeza por mais de vinte e quatro horas. É incrível a capacidade que ela tem de se reinventar e ser feliz. Tem algum analgésico no suco de frutas dela, na cerveja. Tem um antídoto que a faz esquecer das coisas terríveis que acontecem dentro do seu coração nos dias nublados. Aquela angustia que vem todo mês, por uma semana, ela sabe como apaziguar pra não pirar. Ela deve tomar remédios. Não, não toma. É natural. Nasceu assim. Desde antes, desde sempre. Ela é um zumbi na madrugada e de manhã parece que está sempre em meditação. Ouve essas músicas velhas e tem um sentimento antigo de alguma coisa que não viveu, ou talvez que foi vivido na outra vida. Ela se enrola, se embaraçada com as palavras ditas, gagueja até, mas não cai. E quando cai, desmorona. Mas se refaz no outro dia e sabe bem dar cara pra bater. Ela, às vezes parece meio muda, mas fala pelos cotovelos, quando encontra um bom ouvinte.
Ela gosta do mar e de viajar na estrada...
Ela viaja... e sabe ser feliz.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Timidez

Seu sorriso flutua no ar
e eu me perco 
em bolinhas de sabão.
Eu pulo o muro de casa só pra te ver passar.
Eu não tenho chave de lugar nenhum
Eu tenho sempre que escalar pra conseguir chegar em qualquer lugar
Eu quero apenas ver suas pernas desfilando pra cá e pra lá
Acenar com a minha mão e te ver sorrir pra mim e corar. 
Eu espero todos os dias pelo seu olhar de passarinho.




Madrugada lírica

A única maneira de te encontrar é nessa telinha azul. É difícil lidar com esse sentimento tão unilateral. Eu te sigo a toda parte sem você notar sequer um passo meu.
Eu te povôo, eu te faço festa, comida japonesa, música, e você não chama meu nome pras estrelas.
Você chega e sai. Eu te encontro do outro lado da rua, no mundo da Lua. Eu converso com o cara do bar, peço conselhos. Ele me dá uma cerveja e sorri. Eu saio de lá, silenciosamente, para não acordar meus pensamentos sobre você. Então você aparece numa janelinha pra dentro da minha pupila dilatada e me presenteia com um sorriso-de-férias-na-praia, então eu me desconstruo, perco as estribeiras. O corpo congela e esquenta a cada dois segundos. Bate uma leve tontura - como quando fumo o primeiro cigarro matinal - minha boca seca, minha voz gagueja e eu perco as palavras todas.
Você tem a capacidade de me nortear e me desvairar apenas com seu olhar despreocupado. Você sabe bem como embaralhar meus pensamentos nessa telinha. Sabe como acelerar as batidas do meu coração em gestos simples. Sabe como me fazer fantasiar com um beijo mais longo que um ano inteiro. Sabe como me arrancar suspiros pela madrugada e gargalhadas no meio do dia, no meio da rua. Você habita no meu pensamento e eu consigo sentir todos os dias o seu cheiro tímido de motor na estrada. Vejo você e eu a 100 km/h numa highway com o vento no rosto e um sorriso maior que o céu e mais iluminado que todas as estrelas juntas.