quarta-feira, 18 de abril de 2012

Não poderias saber nada de mais absoluto sobre ela, a não ser ela própria. Fazendo algumas perguntas, tu ouvirias respostas. Nas respostas ela poderia mentir, dissimular, e a realidade que estava sendo, e a realidade que agora era, seria quebrada. E pois, não fazendo perguntas, tu aceitarias a moça completamente. Desconhecida, ela seria mais completa que todo um inventário sobre o seu passado. Descobririas que as coisas e as pessoas só o são em totalidade quando não existem perguntas, ou quando essas perguntas não são feitas. Que a maneira mais absoluta de aceitar alguém ou alguma coisa seria justamente não falar, não perguntar - mas ver. Em silêncio.


Caio F. Abreu


Saudade

Gosto de ouvir suas palavras me encorajando a algo que, de certo modo, eu não posso seguir adiante...
Gosto do seu feeling sobre a minha ideia de pessoa, não no primeiro instante mas aos poucos, devagar...
Gosto do seu entusiasmo e das suas palavras bonitas, até as mais descabidas. Para mim, soam como gritos de amor.
Mesmo longe de você, longe do seu coração, dos seus olhos, do seu tempo... eu sei, eu bem sei que um dia, alguma vez eu fiz parte de você, da sua vida e do seu coração...
Dentro do seu pensamento...
Talvez isso me baste... não posso querer mais que isso. Não posso pedir mais do que você pode me oferecer...
Não posso.
Não podemos.

Talvez um outro dia, em outro tempo, ou outro espaço...

Será?


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Acende velas e dança. O corpo só conhece o ritmo indiano: o coração é quem marca o tempo. Vontade faz às vezes de compasso e a alma gira. Quando criança fazia o balanço ganhar altura para alcançar estrelas. Por isso, hoje rodopia quando canta. E acredita que as notas mais altas são capazes de balançar o coração de Deus. E que as mais baixas fazem com que ele se incline suave só para escutar. Quando se sente só, canta baixinho. Até encontrar um sorriso num gorjeio de passarinho. Sua alegria é feita de grãos. Quando a felicidade lhe varandeia os olhos, contagia. A saudade sempre lhe chega num pé de vento. E ela suspira. Há de ter um lírio azul tatuado nas costas. Tem uma flor geminando na alma. Quando expira, polén. Sabe adornar um vazio: esse poço antigo enlaçado de flores. Amarelas. Onde se mata a sede. Na mão aperta, com fé, uma estrela cadente: essa possibilidade. Risca no ar um desejo enquanto se desfaz. Poeira lunar nos pés. Raio de sol para fisgar novo dia. A barra da saia pespontada de horizontes. O pensamento branco, branco. Azul. Amarelo. Verde. Uma paz inquieta. As unhas vermelhas e os cabelos escoando o orvalho desse novo dia. No céu, nuvens de filó. E a terra gira azul, azul, feito saia. Sorri, o mundo dança. 



Cecilia Braga

domingo, 15 de abril de 2012

Essa dor que dói, dói muito...

Eu olho para a cama e você não está mais lá... Eu aqui sentada no computador, como sempre estive, todas essas últimas noites, e você da cama me olhando e dizendo: "bota uma música aí, Mila" E a gente trocava figurinhas em tantas canções, entre tantas bandas, era rock and roll, bossa nova, reggae, BEATLES (claro!)... A gente ouvia, você dançava, eu ria... Tudo era tão bonito, tão azul... Aquela rotina normal me fazia tão bem...
Quando eu chegava do trabalho, irritada com o mundo, você vinha me consolar, tão calmo me perguntando o que tinha acontecido, porque eu tava estressada... Eu não sabia responder, até hoje eu não sei... Mas a sua voz me fazia bem, seu olhar... sua companhia nos domingos musicais, quando você acordava cedo, fazia a barba e a MÚSICA era sagrada, sempre! "Toca BEATLES!" Sempre Beatles. 
Agora a saudade que mora aqui dentro do meu coração é tão dolorida... A cada lembrança, a cada música que o rádio insiste em tocar, meu coração se parte em pedacinhos e as lágrimas escorrem sem parar no meu rosto, e os soluços, e uma tremedeira, e uma tristeza insistente.... E eu me pergunto: que dor é essa, meu Deus? Porque dói tanto assim? "A saudade é uma mão que aperta o coração" Li essa frase em algum lugar e agora ela fica rondando nitida no meu pensamento. Eu sei que ele está bem, que está em um lugar lindo e olhando por mim, por minha mãe e meus irmãos e pela netinha que ele tanto quis conhecer. Isso conforta meus pensamentos e me tranquiliza. 
Mas eu sempre vou me perguntar... porque o meu pai, Deus? Porque tão cedo? 

"Eu não posso entender, essa vida é tão injusta, não vou fingir que já parou de doer mas um dia isso vai se acabar. Eu não consigo me convencer que essa vida não foi injusta, tanta falta me faz você... queria ver você lá em casa... Pai, o AMOR que eu sinto por você é SEU..."