domingo, 25 de abril de 2010

NO OSSO


Havia duas metades
E ainda não sei quem és
meia porção de saudade
Meias esquentando os pés

E ela me disse: vou ali
Volto se a chuva passar
E tem tanta agua pra cair
Na madruaga...

Havia um moço e uma janela
gelando o quarto vazio
ali um vento vinha entoando
esse choroso assobio

E vai doer no osso esse frio
Vai doer no osso...


Pietro Leal

segunda-feira, 19 de abril de 2010


O melhor do amor
não se escreve,
talvez não se fale jamais.
Refugia-se
Nos longos olhares,
Nos longos beijos,
Peito contra peito
E o coração nos lábios

Will Durant

"E, de qualquer forma,
às cegas,
às tontas,
tenho feito o que acredito,
do jeito talvez torto que sei fazer”

Caio F.

(...)Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completa,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheia de segredos,
tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa."

(Carlos Drummond de Andrade em "A Rosa do Povo")

sexta-feira, 16 de abril de 2010

PENSAR É TRANSGREDIR

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.
Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.
Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!"
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.
Sem ter programado, a gente pára pra pensar.
Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.
Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.
Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.
Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.
Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.
Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado.
Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.

Lya Luft

Dos ensinamentos da minha Tia...

"Seja você e seu SER,
nunca enfeite uma situação."


*

segunda-feira, 12 de abril de 2010

05 de maio de 2006

Era sexta-feira. Lembro como se fosse hoje.
Convite na mão, sorriso no rosto. Cheia de alegria.
Quase, quase, quase que a gente não assistiu ao último espetáculo musical
da nossa banda favorita.
Era um dia chuvoso e intenso.
O melhor de tudo foi nos ver esbanjando alegria em plena madrugada, num fim de festa!
Nossa, como era bom aquele tempo...
eu nem sabia....
ou sabia?

*

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Lorsque vous arrivez. . .


"De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada, só olhando e pensando: "meu deus, mas como você me dói vez em quando..."

Caio F.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

19:20

Era 19:15 quando enviei uma mensagem desesperada.
Coração pulando, cheio, entupido, carregado de perguntas. Arre!
Cinco minutos depois, recebi a resposta mais precisa do mundo:
- Estou bem, sem tempo pra conversar, ando ocupado demais, beijo.
Fiquei bem. Aliviada por ele não ter morrido. Ao menos isso, não é mesmo?

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